A partir da busca por um local que unisse jornalistas e escritores com interesses em comum foi idealizada a Associação Catarinense de Imprensa
Balanço Geral Florianópolis – 30/11/2022
É cada vez mais difícil publicar uma notícia em primeira mão. As fontes antigamente eram mantidas em sigilo absoluto. Hoje, os conteúdos chegam cada vez mais rápido as redações. Pela internet, aplicativos, redes sociais. Todo mundo tem acesso a vídeos e textos na palma da mão.
Um aparelho de celular é capaz de mostrar fatos que ocorrem do outro lado do planeta em apenas um clique. O jornalismo “raiz” que dependia de encontros discretos ou ligações para assessorias de notícia, hoje disputa espaço com a “proatividade” de quem quer sair na frente e publicar vídeos ou prints autorais. Nas redações também se perde muito tempo, checando a veracidade e corrigindo a informação de inúmeras “fake news”.
Gustavo de Lacerda foi referência para a criação da Associação Catarinense de Imprensa – Foto: Reprodução/vídeo
Dentro desse cenário imediatista ainda existe uma categoria que luta para manter uma especialização obrigatória nas corporações de comunicação. Há cerca de 13 anos o STF decidiu que não seria mais exigido diploma aos jornalistas para exercerem a função. Fato que ainda bem na prática não ocorre.
As redações têm liberdade para escolher os seus profissionais, mas sempre dão preferência para os que cursaram faculdade. E a importância em se priorizar a capacitação já é idealizada há bastante tempo. Gustavo de Lacerda acreditava que a credibilidade e o reconhecimento só viriam com a profissionalização.
Por todo o país há instituições criadas depois da ABI que também têm o intuito de unir jornalistas e que também trabalham para a melhoria da profissão . Ou seja, o reconhecimento que Gustavo tanto buscava deixou um legado que resistiu a gerações.
Mesmo assim, o “apagamento” de sua história vem junto de inúmeras contradições. Nas poucas fotos existentes, Gustavo de Lacerda teve a pele alterada. Não se reconhece a sua negritude mesmo ele sendo um preto mestiço.
Além disso, há uma contradição na causa morte, já que o laudo da certidão de óbito alegava em registro arteriosclerose, mas, de acordo com pesquisas, depois de ter se internado por três vezes na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, desnutrido e na miséria, ele morreu de fome e foi enterrado como indigente. Outra contradição está relacionada aos motivos que o levaram a deixar a carreira no exército.
Mais dúvidas
A história que foi replicada durante muito tempo é a de que ele mentiu a idade e era rebelde, não queria servir – o que levaria ele a ser preso várias vezes até ser expulso. Hoje, já se defende que, as prisões tiveram motivos pouco significantes e que na verdade Gustavo tinha o sonho de ser alferes mas como era um socialista com ideais totalmente contrários a época, foi perseguido pelo regime.
Aliás as mais recentes pesquisas afirmam que ele mentiu a idade justamente para seguir carreira militar. Em 1850 para chegar ao posto de alferes ou segundo tenente era necessário ter, no mínimo, dezoito anos de idade. Para a Associação Brasileira de Imprensa não há a menor dúvida quanto ao importante papel do discurso futurista do fundador.
No texto de apresentação existente no site da ABI consta que a sede jamais deixou de cumprir os objetivos que a originaram apenas se adaptou as alterações feitas ao longo do tempo especialmente na era digital.
É dever da associação outras coisas, a instituição defende defender o patrimônio cultural e material da nação, realçar a atuação da imprensa parava história dos jornalistas e colaborar em tudo que diga respeito ao desenvolvimento intelectual do País.
Em Santa Catarina, a associação criada em 1950 também para atender os jornalistas tem uma intenção semelhante. Desde o surgimento tenta desenvolver no espaço cursos de capacitação e empreendedorismo, eventos e encontros para a promoção da cultura e da inovação e para o futuro deseja ainda criar o Memorial da Comunicação Catarinense, projeto inédito no Brasil, que tem como objetivo preservar a história do rádio, internet, televisão e da imprensa catarinense, conforme as informações da presidente Débora Almada.
Na Associação Catarinense de Imprensa, a direção que tanto defende os ideias de Gustavo também lamenta a inexistência de arquivos do jornalista. Na sede, há apenas um quadro desenvolvido pelo lendário Martinho de Haro e dois livros escritos pelo colunista e ex-presidente da ACI, Moacir Pereira.
Trajetória visionária de Gustavo de Lacerda contada em livro – Foto: Divulgação/Arquivo
Segundo Moacir Pereira, Lacerda participou ativamente da Fundação do Sindicato dos Linotipistas, o primeiro da cidade na década de 1900. Apoiou e cobriu a greve dos carroceiros e cocheiros contra exigências fiscais consideráveis absurdas. – Foto: Divulgação/acervo
O mesmo acontece na Academia de Letras do Estado. Lacerda foi o patrono da instituição, ocupante da cadeira 14 mas como memória de sua contribuição também não existe muita coisa. Um quadro e poucos registros guardados. O sucessor da cadeira ocupada por Gustavo de Lacerda, José Isaac Pilati se emociona quando lembra a história do que ele define como “gênio incompreendido”. Para ele, a sociedade tem uma dívida eterna que deve ser paga.
Reportagens como esta tentam fazer a retratação. Um documentário criado em 2003 segue sendo replicado como fonte de informação do mesmo. E a novidade agora é uma nova versão literária que traz fatos inéditos de Gustavo de Lacerda. É o que vamos ter acesso na última reportagem multiplataforma do Grupo ND.
Reprodução / Portal ND+
Link para o portal: https://ndmais.com.br/noticias/conheca-a-historia-das-associacoes-criadas-por-gustavo-de-lacerda-e-voltadas-aos-jornalistas/