Associação Brasileira de Imprensa instituiu uma Comissão de Igualdade Étnico Racial para manter viva a memória do seu fundador
Balanço Geral Florianópolis – 02/12/2022
Há mais de 100 anos a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), fundada por Gustavo de Lacerda, defende os interesses dos jornalistas. A sede, localizada no Centro do Rio de Janeiro, ainda mantém partes da estrutura original, inaugurada em 1938, conservadas.
Em consonância com os tempos atuais, hoje existe na ABI uma Comissão de Igualdade Étnico Racial, que também tem como objetivo manter viva a memória do seu fundador. Diante desse cenário, vemos duas lutas encampadas por Gustavo concretizadas: a defesa da imprensa e a batalha contra a discriminação racial.
Gustavo de Lacerda, fundador da Associação Brasileira de Imprensa, era mestiço e natural de Florianópolis, então Desterro. – Foto: Gustavo de Lacerda/Arquivo
Liderada pelo jornalista Marcos Gomes, a comissão será uma diretoria que propõe a participação efetiva dos profissionais negros e seus feitos contra o preconceito e a favor da igualdade, os direitos civis e da liberdade de expressão.
“A Comissão acredita que só conseguiremos mediar esse debate e revogar uma realidade antirracista enaltecendo os feitos de Lacerda”, afirma Gomes.
Registros Eternos de Gustavo de Lacerda
Com um currículo extenso dentro de espaços que guardam a alma de Santa Catarina e autor de obras literárias históricas de personagens catarinenses, o jornalista e colunista do Grupo ND Moacir Pereira escreveu dois livros sobre a trajetória de Gustavo de Lacerda.
Segundo o jornalista, falar sobre o idealizador da ABI é uma das missões mais importantes de sua carreira. Se propôs a tal feito por acreditar que Gustavo de Lacerda, nascido Gustavo Adolfho de Fraga, em 1876, e que mudou de nome por requerimento do Ministério do Exército, tem uma participação gigante na literatura catarinense. Foi exemplo dos valores do bom combate.
Segundo consta no livro de Moacir, além da ABI, Gustavo participou ativamente da Fundação do Sindicato dos Linotipistas, o primeiro da cidade na década de 1900 e também apoiou e cobriu a greve dos carroceiros e cocheiros contra exigências fiscais consideráveis absurdas.
Produzido por Camila Paschoal, Estephani Zavarise, Marcela Campos e Paula Medeiros, o documentário “Gustavo de Lacerda” mostra a relevância de toda uma classe e o poder do discurso de um negro que pregava equidade em uma época de desigualdade totalitária, onde a classe majoritária excluía o proletariado.
Sem endereço, mas com novos olhares. É muito comum vermos ruas, cidades, bairros, praças batizadas com nomes de autoridades e pessoas relevantes de vários segmentos. Isso, inclusive, ajuda a contar a história do Brasil.
Em Florianópolis, Gustavo de Lacerda é exceção à regra. Uma única praça leva seu nome. A boa notícia é que a maior pista de Skate Street da cidade vai ser inaugurada ainda este ano, com direito até a um busto do jornalista.
Também para celebrar as novas águas que passam por debaixo das pontes de Florianópolis foi lançada mais uma obra: “Gustavo de Lacerda: vida e obra de um jornalista negro catarinense (1854-1909)”. Este é o título do novo livro escrito pelo historiador Fabio Garcia, autor de inúmeros de outros tantos que contam relatos de pretos que tiveram suas importantes trajetórias apagadas.
Livro homenageia legado
A obra traz um material de pesquisa inédito sobre o jornalista com pesquisas feitas em todo o país. “O negro, no particular, é o grande desconhecido. Durante todo o percurso de nossa história, a sua contribuição tem sido negada direta ou veladamente, e apenas destacadas as suas qualidades como escravo, produtor de uma riqueza da qual não participava. Os historiadores que se debruçaram sobre a nossa realidade jamais, ou muito raramente, viram o negro como força dinâmica na nossa formação política, social, cultural ou psicológica”, afirma ele.
Obra de Fabio Garcia traz material de pesquisa inédito sobre Gustavo de Lacerda – Foto: Divulgação
O lançamento, que ocorreu na última terça-feira (29), teve a divulgação publicada nas redes sociais da Associação Catarinense de Imprensa. Neste período de tantos registros de preconceito nos noticiários, enaltecer a vida de Gustavo sobre um ângulo diferente é um desafio que todos deveriam ter. Não só pela idealização revolucionária, mas pela luta de combate ao racismo.
Intelectuais negros foram excluídos de um sistema escravagista no passado sem direito a uma memória concreta e digna. Mas se foram seres de aço em anos de chumbo, nos cabe aproveitar essa movimentação nacional para realizar a nossa parte.
Reprodução / Portal ND+
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