Sessão especial da Assembleia Legislativa, realizada nesta segunda-feira (10), celebrou a memória da deputada Antonieta de Barros, cujo nascimento completou 122 anos neste 11 de julho.
A homenagem à primeira deputada negra do Brasil foi proposta pelos deputados Marquito (Psol) e Luciane Carminatti (PT) e contou com a presença do representante de Florianópolis, Mário Mota (PSD).
“’Todo bem que um indivíduo pode alcançar tem sua base na educação’, esta é uma frase visionária, que demonstra o papel central que Antonieta exerceu como deputada, jornalista e professora. Hoje é uma noite de festa em memória da nossa constitucionalista que nesta Casa deixou marcas reais de busca de dignidade humana. Seguimos seu legado na educação, na cultura, na luta pelas mulheres e na política. Antonieta vive, luta e continua transformando”, discursou Carminatti.
“Um ato de extrema importância e que significa manter e cultivar a memória de Antonieta de Barros, um esforço nosso de lembrar, de garantir a memória do nascimento de Antonieta de Barros”, afirmou Marquito.
“’Se educar é aprender a viver, é aprender a pensar. E, nessa vida, não se enganem, só vive plenamente o ser que pensa. Os outros se movem, tão somente'”, declarou Mário Motta, repetindo na tribuna palavras da professora Antonieta.
O sobrinho neto de Antonieta, Flávio Barros, falou em nome dos homenageados e revelou a emoção de ouvir palavras da tia avó novamente reverberarem no plenário da Casa do povo barriga-verde.
“Depois de sentir as palavras de Antonieta ecoarem aqui nesta Casa; depois de ouvir o samba enredo (da Consulado do Samba); depois de sentir tanto carinho, orgulho e amor por Antonieta, o que dizer? Quando entrei na Casa – sei que não é o mesmo prédio – me emocionei. Foi como se estivesse voltando para minha casa e me lembrei na hora das placas tectônicas, do tempo geológico, e o racismo parece um desses fenômenos geológicos”, ponderou Flávio Barros.
O representante da família de Antonieta agradeceu a presença da comunidade negra, que lotou as galerias do plenário, e destacou a força das mulheres.
“Acho muito importante ver essas mulheres pretas, fortes e atuantes, é assim que a gente vai mover essas placas tectônicas e construir um estado e um país melhor”, garantiu.
A vereadora de Florianópolis, Tânia Ramos, e a fundadora da Associação Mulheres Antonieta de Barros, Neli Góes Ribeiro, também agradeceram o gesto do Legislativo.
“Um momento importante, histórico, que nos deixa emocionados, mas gostaria de lembrar da questão do racismo, a questão do nosso povo negro e a gente está sempre se perguntando: onde está nosso povo negro nesses espaços do poder onde decidem nossas vidas? Antonieta foi a única mulher negra deputada”, lamentou Tânia.
“Todos os homenageados e todas as pessoas que aqui estão, com certeza têm algum tipo de ligação com Antonieta, é porque temos Antonieta dentro de nós que estamos homenageando Antonieta. Só de pronunciar seu nome nossos corações se enchem de amor e gratidão, uma mulher que pautou todos os seus passos em prol de construir um mundo melhor. Ela reconheceu, assumiu e se encharcou dessa missão e dela fez sua vida e seu mundo e por isso toca fundo nos nossos corações”, justificou Neli Góes.
Sessão prestigiada
Prestigiaram as homenagens da Assembleia à Antonieta de Barros representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); do Conselho do Desenvolvimento da Comunidade Negra; da Escola Olodum Sul; da Academia de Letras dos Militares Estaduais de Santa Catarina; da Biblioteca Pública de Santa Catarina; do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC); da Diretora de Igualdade Racial da Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Amanda Santos; e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Trecho do discurso de posse de Antonieta no segundo mandato, em 1948
“Pela segunda vez o eleitorado de minha terra me conduz a este recinto. Venho, senhor Presidente, de um setor onde o trabalho é sacerdócio; onde esquecidos de nós mesmos, procuramos construir um mundo melhor por meio de uma humanidade melhor, onde a única paixão que nos anima é a mais pura e santa das paixões, porque é baseada no desejo da perfeição humana.
Deixei, senhor Presidente, a seara harmoniosa da escola, onde não há ódios, onde o amor é o princípio e o fim, onde todo trabalho é construtivo, para responder presente à chamada do meu partido. E aqui estou, coração e espírito cheios de boa vontade para colaborar com meus dignos pares.
Mas, se assim procedi, senhor Presidente, foi, é, porque assim creio que nesta Casa, como na escola, acima dos partidos, sem distinção de credos, a preocupação máxima, a preocupação única é Santa Catarina! Santa Catarina por si mesma! Santa Catarina dentro do Brasil!
Acima de nós mesmos, senhor Presidente, acima de nossos sentimentos e paixões pessoais, acima de todos quantos aqui representam uma parcela da terra querida, há o estado, há os problemas do estado, há a vida do estado, há o bem estar do povo que representamos, há o engrandecimento de Santa Catarina”.
Canção inédita
Os corais da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas gravaram recentemente uma música inédita em homenagem a Antonieta de Barros. Os dois grupos se reuniram na solenidade para apresentar, sob a regência do maestro Giovane Pacheco, a canção “Antonieta de Barros”, composição de Giovane Pacheco e Rogério Guilherme.
Homenageados da noite
Leonor de Barros (in memoriam), representada por Flávio Barros
Lino Fernando Bragança Peres, vereador em Florianópolis
Joana Célia dos Passos, vice-reitora da UFSC
Márcio José Pereira de Souza, ex-vereador de Florianópolis
Ideli Salvatti, ex-senadora e ex-deputada estadual
Darci Vitória de Brito, professora
Zulma Silva Romão (in memoriam), professora
Monique Cavalcanti, artista visual
Rony Costa, fotógrafo
Raphael Soares, carnavalesco
Fábio Garcia
Eliane Debus, escritora
Tereza Barcelos, professora
Flávia Person, documentarista
Maria Odete da Costa, representante da Pastoral Afro-brasileira
Edenice Fraga, escritora
Solange Adão, atriz
Sônia Carvalho, professora
Entidades homenageadas
Associação Mulheres Antonieta de Barros
Fórum de Mulheres Negras
Biblioteca do Estado de Santa Catarina
Negra Bastiana, de Criciúma
Projeto Samba de Antonieta
Reprodução / Agência AL