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Sustentar o jornalismo deve ser compromisso de todos

Num contexto em que a desinformação se alastra com rapidez e impacto, minando instituições e corroendo laços sociais, fortalecer o jornalismo é fortalecer a democracia

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Levantamento do projeto Mais pelo Jornalismo (MPJ), da plataforma I’Max, aponta que 13.147 veículos encerraram suas atividades desde 2014. Nos mesmos dez anos, surgiram 10.795 novos veículos de comunicação no País. O saldo – negativo – é a extinção de 2.352 jornais, rádios, TVs e portais. O estudo também analisou veículos impressos e rádios em cidades com até 100 mil habitantes. Das 2.400 estações de rádio avaliadas, 1.248 (52%) não possuíam portal de notícias. Entre mil veículos impressos, 214 (21%) não tinham site próprio. 

Neste dia 7 de abril, quando se comemora o Dia do Jornalista, os dados revelam mais do que uma mudança no cenário da comunicação: escancaram a crise estrutural vivida pelo jornalismo brasileiro, especialmente em contextos locais. O estudo nos faz refletir sobre os motivos que têm levado tantos veículos a desaparecer e sobre o que está em jogo quando o jornalismo enfraquece. 

O financiamento da atividade jornalística — pilar essencial da cidadania e da democracia — é um dos principais impasses a serem enfrentados não só por quem atua na área, mas por toda a sociedade. Mesmo as redações mais tradicionais encolheram. Jornalistas passaram a acumular funções e a produzir conteúdo em múltiplos formatos e plataformas. Nos pequenos veículos, a situação é ainda mais crítica: a falta de recursos financeiros compromete a produção de conteúdo de qualidade, a atualização tecnológica, a formação continuada de equipes e, por consequência, a própria sobrevivência desses empreendimentos.

A crise não é recente, como mostram os números. Ela se agrava ano após ano, afetando especialmente pequenas empresas jornalísticas, muitas delas sem sucessores, com modelos de negócios ultrapassados e sem capacidade de adaptação aos novos tempos. Sem investimento em inovação, capacitação ou infraestrutura, esses veículos sucumbem, levando consigo a diversidade de vozes e olhares que alimentam uma sociedade plural e bem informada.

É preciso compreender que o jornalismo local não é apenas um negócio — é um serviço público. São esses veículos que acompanham de perto os poderes municipais, que noticiam os problemas e as conquistas das comunidades, que dão visibilidade ao cotidiano de quem, muitas vezes, é ignorado pelos grandes meios. A ausência do jornalismo nas pequenas cidades cria um vácuo perigoso de informação, abrindo espaço para a desinformação, as fake news e a manipulação.

Sustentar o jornalismo, portanto, não é responsabilidade apenas de quem está na linha de frente das redações. É um compromisso coletivo, que envolve o poder público, a iniciativa privada e, sobretudo, a sociedade civil. O equilíbrio entre fontes de financiamento — públicas e privadas — é fundamental para garantir a independência editorial e a pluralidade de conteúdos. Incentivos fiscais, editais públicos de fomento, parcerias sustentáveis com empresas e campanhas de apoio ao jornalismo independente são caminhos possíveis e urgentes.

Num contexto em que a desinformação se alastra com rapidez e impacto, minando instituições e corroendo laços sociais, fortalecer o jornalismo é fortalecer a democracia. Apoiar veículos comprometidos com a apuração rigorosa dos fatos, com a ética e com o interesse público deve ser visto como investimento — e não como custo.

O jornalismo de qualidade não sobrevive sem público, sem apoio e sem condições materiais para existir. Defender a imprensa livre e atuante é preservar o direito à informação, à verdade e à participação consciente na vida pública. Que esse compromisso seja assumido por todos — antes que o silêncio se torne a única notícia disponível.

Por Déborah Almada
Presidente da Associação Catarinense de Imprensa

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